Cuidado
Pela Doutrina de Paulo
Vs. 13-14 – Outra coisa essencial que o servo do
Senhor deve ter é um cuidado pela doutrina de Paulo. Ele diz a Timóteo “conserva o modelo das sãs palavras que de
mim tens ouvido”. Isso é especialmente necessário em um dia de ruína quando
muitos na profissão Cristã estão desistindo dela.
A doutrina de Paulo dá a essa dispensação atual o seu caráter distinto.
A vocação e a ordem da Igreja como corpo de Cristo só são encontradas nas
revelações que foram dadas a Paulo. Se quisermos saber a natureza e a vocação
da Igreja e como ela deve se reunir para adoração e ministério, devemos
recorrer às epístolas de Paulo para isso. Portanto, era necessário que Timóteo
tivesse um esboço da doutrina de Paulo.
Muitos imaginam que nessa exortação a Timóteo, Paulo estava lhe dizendo
para aprender sua doutrina, mas na verdade não
é realmente essa a ideia dele aqui. No
terceiro capítulo, ele o elogia por já ter feito isso, dizendo “tu, porém, tens seguido a minha doutrina” (2
Tm 3:10). Aqui ele está exortando Timóteo a ir mais além e colocar sua doutrina
em um “esboço”. A nota de rodapé da
tradução de J. N. Darby diz que o significado dessa palavra no original em
grego é “uma exposição sistemática, de
forma resumida, de qualquer sistema de doutrina... um esboço”. Isso
significa que Paulo queria que Timóteo não apenas conhecesse a verdade, mas
também que a tivesse em sua alma de maneira ordenada a fim de que ele tivesse
conhecimento prático dela.
Podemos nos perguntar, “Porque isso seria necessário?” Cremos que seja
por pelo menos dois motivos. Primeiro, para que Timóteo fosse capaz de “guardar” o “bom depósito” de verdade, como o próximo verso 14 indica. Essa é
nossa primeira responsabilidade em relação à verdade – guardá-la e não deixar
nenhuma parte dela escapar. Lamentavelmente, foi exatamente isso que aconteceu
nos primeiros séculos da história da Igreja. Os santos em sua maioria não
tinham um “modelo das sãs palavras”,
e assim ela não foi guardada. Na história da Igreja, não demorou muito até que a doutrina de
Paulo fosse perdida quanto ao seu entendimento e à sua prática. Houve uma recuperação da doutrina
de Paulo nos últimos 150 anos, mas, sinto muito dizer, corre-se o risco de ela
ser perdida novamente! E pelo mesmo motivo – não temos tido um esboço dela. Se
o tivermos de maneira sistemática, estaremos melhor capacitados para “guardá-la”. Observe que ele diz “Guarda [...] pelo Espírito Santo”. Não
é para ser guardada pela energia da carne. Não devemos tentar defender a
verdade argumentando, mas sim andando nela pelo poder do Espírito.
Um segundo motivo pelo qual Paulo queria que
Timóteo tivesse um “modelo” é que
ele fosse capaz de transmiti-lo a outros com mais eficiência. No capítulo 2:2,
Paulo prosseguiu dizendo “e o que de
mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam
idôneos para também ensinarem os outros”. Essa era outra responsabilidade
de Timóteo. Há uma ordem moral nessas coisas: primeiro aprender a verdade ao “crescer no conhecimento” dela por meio de um estudo diligente (1 Tm 4:6; 2 Tm
3:10), depois colocá-la em “um modelo” (2
Tm 1:13) para que possamos “guardá-la” (2
Tm 1:14), e sermos capazes de “confiá-la”
a homens fiéis que também irão ensinar a outros (2 Tm 2:2). Há alguns que
conhecem a doutrina de Paulo razoavelmente bem, e somos gratos por isso. Mas
eles têm dificuldades em explicá-la a outros, e isso provavelmente porque eles
não têm um esboço dela. Se quisermos ser servos do Senhor eficientes ao
manusear a doutrina de Paulo, precisamos ter um esboço dela.
Tendo afirmado a necessidade de valorizar a doutrina de Paulo,
poderíamos muito bem nos perguntar no que consiste exatamente a sua doutrina.
Dito de forma simples, são as coisas que ele ensinou nas quatorze epístolas
inspiradas que escreveu. Mais
precisamente, é a essência das quatro
revelações que ele recebeu do Senhor. (Não estamos dizendo que ele tinha apenas
quatro revelações do Senhor, mas que o somatório de sua doutrina é apresentado
nas quatro que ele menciona em suas epístolas). Elas são as seguintes:
1) Gálatas 1:11-12, “Mas
faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo
os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação
de Jesus Cristo”. (Veja também 1 Coríntios 15:1) Isso tem a ver com a
posição do crente “em Cristo” e
todas as bênçãos relacionadas em conexão com estar nessa posição de aceitação.
Parece que ele chama isso de “meu
evangelho” (Rm 2:16 etc.).
2) Efésios 3:2-7, “se
é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi
dada; como me foi este mistério manifestado pela revelação como acima, em
pouco, vos escrevi, pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão
do mistério de Cristo, o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos
homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos
e profetas, a saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e
participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”. (Veja também Cl.
1:24-27). Essa revelação tem a ver com a verdade de Cristo e a Igreja. Ele diz
que “grande é este Mistério” (Ef
5:32). Isso revela a natureza da união que existe entre Cristo a Cabeça do
corpo e os muitos membros na Terra habitados pelo Espírito Santo. Isso também
incluiria a organização prática para a ordem e o testemunho da assembleia.
3) 1 Co 11:23-26 (TB) “Pois eu recebi do Senhor, o que também vos entreguei, que o Senhor
Jesus na noite em que foi traído, tomou pão, havendo dado graças, o partiu e
disse: Este é o Meu corpo que é por vós; fazei isto em memória de Mim. Do mesmo
modo tomou o cálice, depois de haver ceado, dizendo: Este cálice é a nova
aliança no Meu sangue; fazei isto todas as vezes que o beberdes em memória de
Mim. Pois todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice, anunciais
a morte do Senhor, até que ele venha”.
E depois, no capítulo 10:16-17, “Porventura,
o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão
que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós,
sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo
pão”. Essa foi uma revelação que Paulo recebeu sobre o significado doutrinário
da ceia do Senhor – o pão expressando a unidade do corpo (místico) de Cristo, e
a participação dele sendo a confissão de que somos membros desse corpo.
4) 1 Tessalonicenses 4:15-17, “Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que
ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o
mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta
de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os
que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a
encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”. (Veja
também 1 Coríntios 15:51-57). Essa revelação especial tem a ver com o
complemento dos detalhes concernentes à vinda do Senhor (o Arrebatamento) e a
ressurreição dos santos.
É interessante notar que o Próprio Senhor divulgou
inicialmente a verdade em cada uma dessas revelações de forma embrionária em
Seu ministério. Ele deu a semente delas, mas deixou-as para Paulo (quando o
Espírito de Deus viria e nos ensinaria “todas as coisas” – João 14:26) transmitir o significado
doutrinário completo delas. Antes de o Espírito vir morar nos santos, eles não
poderiam receber isso (Jo 16:12-13).
Em João 8:32, o Senhor disse “e conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará”. E também em João 14:20, Ele disse “naquele dia, conhecereis que Estou em Meu Pai, e vós, em Mim, e Eu, em
vós”. Essa é a linha de verdade de Romanos onde a libertação completa do
crente (“liberdade” Rm 6:18 – JND) é
anunciada no evangelho de Deus, onde também a aceitação do crente “em Cristo” é ensinada com suas bênçãos
relacionadas (Rm 8:1, 10). E então em Mateus 16:18, o Senhor foi o primeiro a
anunciar a formação da Igreja, ao dizer “sobre
esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela”. Então em Mateus 26:26-30 o Senhor foi Aquele que instituiu a
Ceia. E em João 14:3, Ele foi também o primeiro a falar de Sua vinda (o
Arrebatamento), ao dizer “E, se Eu for e
vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que,
onde Eu estiver, estejais vós também”. Ele também foi o primeiro a falar da
ressurreição dentre os mortos, ao
dizer “que a ninguém contassem o que
tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos. E eles
retiveram o caso entre si, perguntando uns aos outros que seria aquilo,
ressuscitar dentre os mortos”. (Mc 9:9-10 – ACF). Os judeus
conheciam a ressurreição como algo geral (Hb 6:2; Jo 11:24), mas até então eles
não tinham ouvido falar da ressurreição “dentre” os mortos.
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