Disposição
para Sofrer pelo Evangelho
Vs. 8-12a – Se Timóteo tivesse a coragem que o Espírito dá e exercitasse
seu dom fielmente, ele podia esperar pelo sofrimento. Por isso, Paulo o exorta
a não se envergonhar do “testemunho de
nosso Senhor”. O testemunho do Senhor foi muito difamado (At 28:22), e
estar vinculado a ele era definitivamente uma reprovação. Não podemos escapar do
sofrimento pela causa de Cristo enquanto estivermos nesse mundo; isso vem no
pacote, por assim dizer. Timóteo não devia evitar o vitupério, mas se unir ao
apóstolo em suportá-lo.
Em um dia de ruína e fracasso a tendência é ficar “envergonhado” do testemunho Cristão por que ele tem falhado em
representar o Senhor e a revelação celestial da verdade. Quando pensamos na
desonra que Cristãos introduziram no testemunho por conta de seu mau
comportamento (e todos tivemos participação nisso), podemos entender bem porque
uma pessoa se sentiria envergonhada. Não havia perigo de alguém sentir vergonha
do testemunho do Senhor nos primeiros capítulos de Atos. Naqueles primeiros
dias o poder de Deus era evidente por meio de sinais e maravilhas, e havia
muita bênção no evangelho. Mas nos últimos dias, quando há muita desonra
pública do nome de Cristo, precisamos dessa exortação. Vivemos em um dia de
testemunho remanescente. É um tempo de fraqueza e “coisas pequenas”, mas não
devemos desprezá-lo (Zc 4:10).
Timóteo devia estar disposto a “participar
das aflições do evangelho”. Para alguém que era naturalmente receoso e
tímido essa não seria uma expectativa bem vinda. Obviamente somos felizes em
ser participantes das bênçãos do
evangelho, e muitos estão dispostos a serem participantes na obra do evangelho, mas relativamente
poucos estão dispostos a serem participantes das aflições do evangelho. Isso é perfeitamente compreensível, mas
todas essas coisas andam juntas. Timóteo não devia estar receoso pela mensagem
do evangelho, nem por seu mensageiro principal, Paulo. Isso é mencionado, pois
havia uma reprovação certa ligada ao apóstolo. Muitos tinham vergonha de serem
associados com ele e não queriam mais ser identificados com ele (v. 15).
Timóteo devia suportar essas aflições, mas isso só seria possível “segundo o poder de Deus”. Somente Deus
nos fortalece pelo Seu poder para que possamos sofrer pelo nome do Senhor (Cl
1:11).
Nos versos 9-11 Paulo trata da grandeza do evangelho que “nos salvou” e “nos chamou com uma santa vocação”. A ideia aqui é que se o servo
percebe a grandeza da mensagem que ele tem tido o privilégio de carregar,
estaria mais disposto a sofrer por ela. Paulo menciona os dois principais temas
do evangelho. O primeiro é que Deus “nos
salvou”. O segundo é que Ele “nos
chamou com uma santa vocação”. Salvação e vocação são duas coisas distintas,
no entanto, estão inseparavelmente interligadas no evangelho.
“Nos salvou” aponta para a verdade simples de
que fomos libertados da pena de nossos pecados. Isso ressalta o lado da questão
que tem a ver com aquilo do que fomos
salvos. “Nos chamou com uma santa
vocação” é mais o lado positivo do evangelho. Isso enfatiza para que fomos salvos. Isso foca no
propósito de Deus em glorificar a Cristo e nas bênçãos espirituais que são
nossas n’Ele acima em glória (Ef 1:3).
Temos:
- Uma vocação santa (2 Tm 1:9).
- Uma vocação celestial (Hb 3:1).
- Uma vocação soberana (Fp 3:14).
É triste dizer mas muitos Cristãos estão satisfeitos em conhecer a
primeira parte, mas não investem tempo para entender o que sua vocação em Cristo
significa. Muita coisa é perdida quando esse lado do evangelho não é entendido
porque toda doutrina afeta nosso caminhar de alguma maneira. Foi a segunda
parte do evangelho que fez com que Paulo fosse preso. Ensinar que pecadores
dentre os gentios que cressem em seu evangelho seriam abençoados no céu, mais do que Abraão, Isaque, e Jacó enfureceu
os judeus. Eles não podiam tolerar isso e incitaram as autoridades romanas
contra Paulo, que o aprisionaram e posteriormente o executaram.
Salvação e vocação não são “segundo as nossas obras”, mas
somente pela graça soberana. O plano de Deus para nos salvar e nos abençoar supremamente
foi “segundo o Seu próprio
propósito”, e foi “antes dos tempos
dos séculos” que Ele nos escolheu em Cristo. Muito antes de termos pecado
ou incorrido em uma única deficiência, Deus tinha estabelecido um propósito
para nossa bênção eterna. Nenhum mal ou fracasso ou decadência no testemunho Cristão
pode alterar isso.
V. 10 – Se o sofrimento levar à morte, haverá ressurreição. Isso mostra
que sofrer pelo Senhor nunca é algo menosprezado na Escritura. Pregar o
evangelho poderia levar à morte de martírio. E se esse fosse o caso, Paulo salienta
o fato de que o Senhor triunfou sobre a morte para que o crente não tenha nada
com que se preocupar. Ele “aboliu a
morte”. A leitura correta é “anulou”
(JND) e não “aboliu”, pois, a
morte ainda está presente na criação. Pessoas estão morrendo todos os dias. Mas
a morte foi anulada para o crente no sentido em que todo o seu poder terrível
foi interrompido. Antes da morte e ressurreição de Cristo, a morte dominou os
homens como um inimigo temido. O medo da morte sujeitou os homens à escravidão
(Hb 2:15). Mas quando Cristo ressurgiu dos mortos, Ele quebrou os “tormentos” da morte (At 2:24 –
Tradução de W. Kelly). Para o crente, o temor foi retirado. A morte foi roubada
de seu “aguilhão” (1 Co 15:55).
O evangelho
“trouxe
à luz a vida e a incorruptibilidade” (JND). A vida é para a alma e a incorruptibilidade é para o corpo. Os
fatos concernentes à morte e àquilo que está além dela nos foram dados para que
possamos saber com certeza o que aguarda o crente que morre. Temos “vida” eterna agora por crermos no
evangelho (Jo 3:15-16, 36, 5:24, 6:47, 20:31). Mas também, aguardando qualquer
crente que morre pela fé do evangelho, ou de qualquer outra forma, está a
promessa de “incorruptibilidade”
para o corpo. Todos aqueles que morrem no Senhor têm a garantia de alcançar o
estado de incorruptibilidade. Isso acontecerá na “primeira ressurreição” (Ap 20:4-5)
– também chamada de “ressurreição dos
justos” (Lc 14:14; At 24:15) – que se dará na vinda do Senhor (o
Arrebatamento). Eles serão glorificados naquele momento. Crentes que estiverem
vivendo na Terra no momento da vinda do Senhor também serão glorificados então.
Eles serão revestidos de “imortalidade” (1
Co 15:53-54), mas isso não é
mencionado aqui porque Paulo está falando de morrer pela fé do evangelho.
No tempo do Velho Testamento, os homens sabiam muito pouco a respeito da
morte e do que havia além dela. O evangelho trouxe muita luz sobre esse
assunto. Portanto, temos muito mais conhecimento a respeito da condição do espírito fora do corpo dos justos, e, consequentemente, podemos falar com
muito mais certeza sobre eles. Eles estão no paraíso com Cristo, o que é muito
melhor. (Lc 23:43; Fp 1:23). Conhecer essas coisas deveria encorajar o servo do
Senhor a seguir adiante com o evangelho sem medo. Essa era uma exortação
necessária para Timóteo e para muitos de nós que possam ter dificuldades nesse
sentido.
V. 11-12a – Era a missão de Paulo desvendar essas coisas entre os
gentios. Ele não deixaria nada interferir no cumprimento desse serviço ao
Senhor para com as nações
não-judaicas (At 22:21; Gl 2:7-9). Ele fala disso como um trabalho triplo: um “pregador”, um “apóstolo”,
e um “mestre” (ARA). Mas tudo isso resultou
em sofrimento. Ele disse “por cuja causa
padeço também isto”. Timóteo não estaria sozinho ao sofrer por causa da
verdade.
Em todo o sofrimento pelo qual o apóstolo passou, não vemos o menor
sinal de indignação. Ele não estava abatido, nem estava “envergonhado”. Havia uma completa submissão a tudo isso, sabendo
que isso fazia parte do serviço de levar a verdade.
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